quarta-feira, 19 de junho de 2013

Crisântemo - relatos brasileiros



Na sequência da música "Crisântemo", do rapper Emicida, o relato de uma mulher sobre perda, morte e saudade. 

"Era dia de Cosme, madrugada
Chovia lá fora
De repente alguém chama
"Jacira, sou eu, Luiz"
Pressenti, Miguel morreu
O que mais poderia ser?
Além do mais, meu coração já estava apertado
Prevendo desgraça
Na festa do terreiro, a certa hora, o erê subiu
E quem desceu foi seu sultão da mata
Me chamou e disse
"Pegue os meninos e vá pra casa -
Disse: "Prepare o coração e seja forte, vá? "
Levantei, abri a porta e a desgraça se confirmou
Uma briga, o tombo
O seu Zé do doce socorreu
Seu Zé é a representação do estado no Jardim Fontális
Talvez ainda até hoje

Notícia pra dar, vaquinha pra enterrar,
Domingo
Justo eu, que me criei sem pai
Perder o pai já é uma tragédia
Perdê-lo na infância é sentir saudade
Não do que viveu, mas do que poderia ter vivido
O enterro, a volta
O olhar do menino marejando, pensando longe
Sem entender
E o meu coração apertado, sem conseguir explicar
O tempo foi encaixando tudo
Os pertences dele sempre no mesmo lugar
O velho chinelo abandonado respondem
"Ele não vai voltar"
Os dias são escuros mesmo com sol quente
O silêncio de Miguelzinho cala
Cada vez mais fundo no peito da gente
Quando o pai morre
A gente perde a mãe também
Eu já sabia o que era isso
Como pode alguém morrer no mesmo dia que nasceu?"

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